Este fim-de-semana são esperados mais de dois milhões de fiéis na peregrinação anual à “Mamã Muxima”, o maior centro mariano da África subsaariana, a 130 quilómetros de Luanda.
A previsão de elevada concentração de peregrinos está a levar a Polícia Nacional a redobrar apelos a cuidados com a segurança, pessoal ou rodoviária, tendo em conta que os fiéis chegam à zona do santuário a pé, de viatura própria ou de autocarro, mas também em barcos ou canoas.
“Prevê-se a concentração no local de mais de dois milhões de peregrinos, provenientes de vários pontos do país e do estrangeiro. A peregrinação à Muxima é uma actividade religiosa que carece de medidas de alta segurança, devido a concentração de pessoas, sinistralidade rodoviária e outras ocorrências”, informa a Polícia Nacional.
A peregrinação de 2015 decorre sábado e domingo, sob o lema “Mamã Muxima reaviva a fé dos leigos em Cristo, fazei o que Jesus vos disser para Reavivar a sua Fé”, com as celebrações a serem presididas pelo bispo da diocese do Namibe, Dionísio Hisilenapo.
À frente daquele santuário está, desde 2010, o padre missionário mexicano Albino Gonçalves, que todas as semanas, ao longo do ano, recebe 5.000 cartas com pedidos e mensagens dos peregrinos à “Mamã Muxima”, os quais, por norma, acampam nos arredores do templo.
“Sentem que têm de agradecer, que não podem vir ao santuário de mãos vazias, porque daqui também não vão vazios, saem com a bênção e com a paz no coração”, explica o pároco da Muxima.
As obras de requalificação daquela vila, e que incluem um novo templo, vão permitir transformar aquele santuário no primeiro com o estatuto nacional em Angola, por decisão da Igreja Católica.
“Quando, não sei, mas esperamos que mude não só as infra-estruturas, com a nova basílica que vai ser construída. Vai mudar o acolhimento e a atenção ao peregrino”, disse ainda o pároco.
O executivo decidiu, em Outubro passado, reestruturar o projecto do novo santuário, da autoria do arquitecto português Júlio Quaresma, que prevê a sua implantação numa área de 18.352 metros quadrados, tendo a nova catedral capacidade para acomodar 4.600 devotos sentados, além de contemplar a construção da vila de Nossa Senhora da Muxima.
A propósito das mais de 5.000 cartas com pedidos de peregrinos, Albino Gonçalves recorda que “a carta não é o importante, o importante é o que lá se escreve, o que vai no coração do peregrino. É como se escrevessem directamente à Nossa Senhora”.
A vila de Muxima – que na língua nacional quimbundu significa “coração” – foi ocupada pelos portugueses em 1589. Dez anos depois construíram uma fortaleza e a igreja de Nossa Senhora da Conceição, também conhecida como “Mamã Muxima”.
Tornou-se ao longo dos séculos numa espécie de centro espiritual de Angola, mas também uma local de visita turística, com o rio Kwanza de fundo.
As cartas que hoje chegam ao santuário, com pedidos de apoio na doença, no trabalho ou para a família, substituíram os apelos à paz, com o fim da guerra civil em Angola, em 2002. Agora, só “nos dias mais calmos”, chegam a ser depositadas cerca de 300 cartas com pedidos dirigidos à “Mamã Muxima”, mas o pároco garante que a resposta é apenas espiritual.
“Não sou eu que respondo”, diz o padre Albino Gonçalves, desde 1998 missionário em Angola, com a tarefa de compilar as cerca de 5.000 cartas que todas as semanas são deixadas naquele templo.
“É um ritual muito bonito e importante porque ao escreverem, os peregrinos concretizam o que têm no coração, o que os preocupa”, conta.
Foto: Imagem retirada do vídeo “Mamã Falou” de Nelo Carvalho e Jacob Desvarieux